Penso que todos os brasileiros se
sentem como eu, ou quase todos. Verdadeiramente eu queria muita paz, não só este
ano, mas todos os anos da minha vida, assim como os meus irmãos brasileiros. Ocorre
que a paz não é uma dádiva divina, é construída com uma dose muito elevada de paciência
associada ao mesmo teor de tolerância. Ora, paciência podemos ter com os nossos
irmãos, com os nossos vizinhos, com os nossos colegas de trabalho, com os
transeuntes, com as pessoas com as quais dividimos espaço na rua, nos ônibus,
nos trens urbanos e nos metrôs. Podemos ser pacientes e tolerantes em quaisquer
situações, exceto quando se trata de questões ligadas à politica, e não é
politica simplesmente por ser a politica, mas por se tratar da administração da
coisa pública.
O Brasil assumiu a posição de 6ª
maior economia do mundo, virou modelo mundial de combate à AIDS, virou modelo
mundial de combate à pobreza, mas não consegue combater a corrupção, essa “praga”
que enriquece políticos banqueiros e empresários e que fomenta a negligencia
contra o sistema de saúde jogando pacientes em macas nos corredores de
hospitais e ainda nos obriga a assistir, pela televisão, a morte agonizante de
pessoas pobres e humildes, sem assistência médica. As mesmas pessoas que os políticos
anunciam que saíram da pobreza e as que ascenderam à classe Média. São estas
pessoas, que por não poderem pagar um singelo plano de saúde, sofrem até à
morte, enquanto esperam por uma vaga em um hospital público porque o dinheiro
foi desviado para cofres particulares.
Alimenta o superego que enaltece
o discurso sobre a Educação. Fala-se da importância dela para a construção e
desenvolvimento de uma sociedade justa e igualitária; gasta-se muito dinheiro
com a propaganda da merenda escolar, mas não se faz o repasse dos recursos para
a aquisição dos produtos necessários para oferece-la aos alunos; gasta-se muito
dinheiro com a propaganda do transporte escolar, mas não se fez o repasse dos
recursos para pagamento do aluguel dos carros e barcos contratados para tal,
obrigando as escolas a reduzir horário de aulas por falta de merenda; a
interromper o processo por falta de alunos porque os transportadores não
conseguem mais comprar combustível face à falta de pagamento.
Exacerba-se o desejo do lucro sem
limite e se mete a mão nos recursos dos programas de atendimento direto ao
cidadão, jogando ao relento famílias inteiras sem moradia, sem alimento e sem esperança
que se alimentam apenas dos discursos demagogos em períodos eleitorais.
Escolas podres caindo aos
pedaços, hospitais miseráveis e barracos são os espaços que sobram para o povo
que constrói o “gigante Brasil” que surgiu como colônia e hoje desponta como
potencia econômica mundial. Como pode, a nossa “Pátria amada, tão idolatrada”,
privilegiar os “barões da corrupção” e jogar na miséria seus filhos “amados”
trabalhadores que construíram o grande “Projeto Brasil” e hoje habitam os bolsões
de miséria que rodeiam os corredores do poder?
Diante desta situação não posso
ter paz no meu coração. Primeiro, porque não suporto ver as pessoas sofrerem
tanta carência provocada pela má aplicação ou desvio dos recursos públicos e
ainda receber em minha casa cartas de pseudos defensores dos direitos dos menos
favorecidos pedindo ajuda para socorrê-los, como se eu ainda não estivesse fazendo
a minha parte ao pagar os impostos que me são cobrados com tanta ferocidade,
cujo objetivo é exatamente prestar esses serviços. Segundo, porque eu não
consigo olhar com paciência e tolerância para o cenário de corrupção que se nos
apresenta. Ora, se um politico é flagrado em atos de corrupção, todo o escalão
do alto comando político sai em defesa dele. Isto me leva a pensar que é
realmente difícil um cidadão comum “olhar para o Brasil” e ter paz no seu
coração.
Claro que políticos, grandes empresários,
banqueiros, operadores do direito e todos aqueles que se alimentam daquilo que
aflora da relação corrupto-corruptor discordará de tudo o que está escrito
aqui, mas não é meu interesse contar com a concordância deles.